quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Relógio que não pára

As pessoas estão demasiado mecanizadas para olharem para a penumbra. Deslocam-se, abrem a boca para falar, para comer, para bocejar. E dormem. Num sono tão profundo que é incapaz de olhar ao suposto inconsciente que se pode considerar inconcebível para alguns, mas que, para outros, se encontra como o único alcance para a razão de viver. Nem todos percebem… Nem todos conseguem fazer parar o relógio, tal como tempo da ampulheta que ás vezes não merece correr, porque há sempre uma pedra maior que o faz parar durante uns segundos. 1 segundo, 2 segundos, 3 segundos… e as pessoas assim continuam como se tivessem uma pedra no lugar do coração, uma máquina no lugar do cérebro, como se as entranhas (supostamente humanas) deixassem de permanecer deixando-se apodrecer pela ferrugem do tempo. Todo o mundo acorda ás 7 da manhã, move-se sobre as rodas, sobre o fumo dos carros, sobre as discussões entre os pais, os choros das crianças, as gargalhadas que troçam dos outros, que adoram sentir o poder do sadismo. O mundo assim se move e o meu teima em parar, ou retroceder, porque giro ao contrário de todos… o meu relógio funciona ao contrário, a minha felicidade não gira em torno da angústia dos outros, sinto-me paralisada no canto do quarto escuro que me prende com correntes e me faz observar que tudo, tudo, é pré-fabricado, que as pessoas são iguais, que o futuro está programado e que eu continuarei aqui presa, a sentir-me sempre diferente de tudo e todos, sem defesas para além dos meus pensamentos. Observar… é a única missão que prevejo de facto… o meu mundo é oposto… porque aqui as pessoas comem-se umas ás outras, espezinham-se sobre capitalismo que quer imperar estas vidas. Tudo se consome: o sexo, o dinheiro, o ódio, a dor… deste lado o tempo não pára! Tick tack tick tack… o relógio continua… mas o meu continua parado.

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