quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Fora.
Das nuvens, do chão, de mim.
Dentro de uma armadora de vento, de uma melancolia escondida pelo passar das horas.
Das horas perdidas, das horas ganhas, das horas do relógio.
Acordada nos sonhos, adormecida na vida.
Sem nunca  ter percebido, o que aconteceu.
As quatro paredes roubam-me, a dedicação rouba-me. Tu roubaste-me, há muito.
Respiro-vos em simultaneo, e nada resta de mim.
E tudo fica cá dentro, sem saber como gerir.
Como mostrar. Como lidar.
E tudo fica nas sombras dos passos que dou.
E tudo cresce, sem saber para onde foi.
Para onde fui.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Feliz por nada
«Geralmente, quando uma pessoa exclama “ Estou tão Feliz!”, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada. Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz, porque alguém lhe elogiou. Feliz, porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz, porque você não magoou ninguém hoje. Feliz, porque daqui a pouco será a hora de dormir e não há lugar no mundo mais reconfortante do que a sua cama. Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito. Feliz por nada, nada mesmo? Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal felicidade inferniza. “ Faço isso, faça aquilo”. A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho? Particularmente, gosto de quem tem um compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu quotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado” também. Estanto triste, felícissimo também. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo. Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem. Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adquar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para quê se consumir tanto? A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, é um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa. Ser feliz por nada talvez seja isso. »
2 de maio de 2010
Martha Medeiros em  «Feliz por Nada».

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

 Gaspar Machado add you as a friend.


Tua.

Não te ter perto faz-me voltar ao meu antigo eu. Ao eu só. Só, eu era tempo, momentos nos quais tentava decifrar motivos para esperar. Para esperar por alguém como tu. Essa nostalgia veio ter comigo, e aqui te espero, com muitas e sem nenhumas saudades. Tinha também saudades do meu eu perdido e só. Da Ana que sabe absorver momentos de forma espontânea por sofrer com os dias que passam. De uma Ana não aborrecida e com algo para contar, sobre o seu caminho e sobre a solidão. Uma Ana melancólica, que fala com exaltação nas palavras e emoções, por ter tantas acumuladas para dar a alguém como tu. Encontrei-te e mudaste-me a vida, mudaste-me a mim. Ás vezes sinto-me vazia por sentir que dei toda a minha essência a alguém, sinto que me tiraste o coração, que fiquem sem alma. Porque nunca, mas nunca tive alguém que abraçasse desta forma os meus sentimentos. É um misto de sensações entre querer deixar-me ficar nos teus braços, deixar que me leves nos teus dias, nos teus olhos, nas tuas memórias e um misto entre sentir que me roubaste. Eu sei que permiti que me absorvesses até que ficasse em pó. Sei que sou pó, mas que sou de alguém. Tenho medo que não volte a ser feita de pessoa e que permaneça como ar. Quero que me leves para sempre, que me guardes, que me vivas, que me tomes tua.    

domingo, 8 de julho de 2012

Eu amo, eu espero.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Morrer para Libertar.

EU, HOJE.

Quando vi aquele corpo morto de vida deixar-se cair sobre o solo verde, fiquei com vontade de chorar. Fiquei com a expiração interrompida por perceber e deparar-me com o facto de que este é o sitio onde os comuns mortais se vêm libertar. Há pessoas que se convencem de que a felicidade existe quando encontramos o homem perfeito, quando se tem filhos, ou quando se tem muito dinheiro, como dizia a Esther no Zahir. Depois há aqueles que quando atingem esse nível não percebem como, mas não se sentem felizes. É um facto. O que acontece é que a felicidade está em nós, seres individuais. As pessoas que vêm aos jardins da Gulbenkian percebem isso. É como se existisse uma tribo invisível. Um sítio onde todos nos vemos mas nos olhamos como seres asexuados em busca da libertação e paz de alma. Aqui, não são precisos maneirismos, não são precisos bem pareceres. Aqui tudo se encontra no estado mais puro e verdadeiro, na essência do ser. No início sentimo-nos meio desconfortáveis, observados mas depois, quando repetimos acabamos por perceber que afinal este é o sítio certo para descansar, desde que nos consigamos distrair das pessoas e focarmo-nos no nosso interior. O homem engravatado que mesmo à minha frente, praticamente me obrigou a parar a meio do meu percurso e se deitou sobre a relva estava carregado. Carregado de um desespero mudo, de problemas de trabalho, carregado de vozes, de sítios, de dor. O sol, a água, as conversas dos pássaros, a terra e as pedras absorvem-nos. Limpam-nos. O céu sobre nós transforma o mau em bom e saímos daqui leves e com a alma exterior ao nosso corpo.

Andamos sempre a fugir, a esquecer-nos de nós. A desconhecer-nos e a tornar-nos no que os outros são. Mudamos o nosso estado mais puro, e passamos a ser aquilo que os nossos olhos escutam todos os dias. Por vezes admiramos tanto as pessoas, que quando nos esquecemos do nosso espírito, passamos a ser o que os outros têm de mal, a ser o que têm de bom, a imitar sem saber. E pior, fugimos de nós porque queremos, mudamos porque queremos, porque temos medo de ficar sós outra vez.

Tenho medo todos os dias.  Mas é apenas quando aqui chego que percebo, que o verdadeiro reconforto, o mar de tranquilidade e a melhor sensação de sempre e que muitos desconhecem é quando nos descobrimos, quando nos gostamos assim, sob forma de ser imperfeito. Com todos os nossos defeitos, sem precisar de anti depressivos, sem precisar de drogas para conseguirmos realmente abrir o nosso coração e deixar entrar a luz. Medo para quê? Se é isto que todos nós procuramos. Para quê ir embora? Porque não tentar mesmo? Devíamos sonhar mais para nós, ambicionar estados de alma, em vez de nos entupirmos com o virus que só iremos encontrar a felicidade com o que não foi dito.

O amor move o mundo, é a coisa mais forte que podemos experienciar. Principalmente o amor próprio. Quando encontramos alguém com quem podemos partilhar esse amor é como atingir o estado nirvana. Encontrei alguém com muito potencial. Mas ele ainda foge muito de si mesmo. A minha paixão tornou-se tão sofrega, que também comecei a fugir. Como ele sempre fez. Enchemo-nos de todos e restos quotidianos e vamos estragando aquilo que temos de melhor, o melhor de nós em conjunto. O meu objectivo inicial, era a união de almas, mas as trivialidades do nosso percurso fizeram-me desviar. Eu hoje parei. Finalmente parei. E espero ter recuperado a minha sede de equilíbrio. Aquilo que quero, é que respiremos como um só separadamente. Saber fazê-lo. Quero que paremos, que fechemos os olhos de mãos dadas, e que aqui, nos procuremos por dentro. Que oiçamos a nossa respiração e que nos esqueçamos que somos feitos de pessoa, que nos esqueçamos da existência de vidas em nós. De passados e futuros. Que sintamos o calor dos nossos corações e o arrepio frio na garganta, sem horas, sem medos, como se entrássemos em transe. Estandos separados mas a deixar correr o fio de energia que se faz percorrer pelas nossas mãos dadas.
Assim, quando estivermos longe um do outro, será mais fácil. Assim, da próxima vez, nem eu, nem ele teremos tanto medo de estar sozinhos. Porque estas ligações, quando solidificadas, não se perdem à distância.